Bem vindo ao espaço digital utilizado pelos alunos e professores da disciplina Técnica de produção em Jornalismo Impresso para debates sobre questões pertinentes à formação jornalística e à prática do dia-a-dia da profissão no meio impresso.

sábado, 12 de setembro de 2009

Impresso em Debate: Semana 4

Turmas,

Estou postando o formato digital do livro "Mídia e Violência", de AnaBela Paiva e Silvia Ramos. Para essa semana, a leitura é do artigo "Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais".
Comentários até meia noite de sexta-feira, dia 18/09/09.

Download do livro: Mídia e Violência

abraços

Bedendo

25 comentários:

  1. O artigo fala da dificuldade que os jornalistas encontram para fazer matéria policial, mas também, a negligência de uns ao se acomodarem com as informações da primeira fonte. Apesar dos empecilhos, os repórteres precisam buscar fontes que façam alusão aos “direitos humanos, violência enquanto fenômeno social, raça e etnia, gênero e violência doméstica” como cita o autor, para que uma das funções básicas do jornalismo seja feita: educar. Mais do que apontar o fato criminoso é preciso analisá-lo com a opinião de especialistas para que as causas e soluções sejam apontadas.
    Não podemos deixar de destacar o respeito necessário para com a fonte. Ao falarmos de violência, é preciso ter muita cautela. A vítima do ato criminoso muitas vezes fala mais do que gostaria, deixando exposta sua intimidade. É preciso lembrar à fonte, sempre que necessário, nosso papel de repórter e confirmar se ela autoriza de fato a divulgação do que foi dito.
    O texto aborda muitos outros cuidados que devem ser tomados no jornalismo policial como a atenção para não se criar intimidade com a fonte. Quando é criado laços de amizade, o profissionalismo pode ser deixado de lado tornando difícil a apuração de crimes de violência institucionalizada.
    Gostaria de mencionar um tipo de negligência que não vimos no artigo, o imperialismo do eixo Rio e São Paulo nas coberturas. Neste ano, o estado do Alagoas foi considerado o mais violento do Brasil, seguido do Espírito Santo, em pesquisa divulgada pelo Ministério da Justiça. No entanto, o que assistimos nos telejornais e observamos nos jornais impressos é a supremacia Rio / São Paulo nas reportagens policiais, com raras exceções.

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  2. Ir além das fontes policiais. Segundo Silvia Ramos e Anabela Paiva, esse é o principal desafio para a cobertura jornalística de casos de violência, segurança pública e criminalidade. A imprensa brasileira tem uma relação de dependência com a polícia, fonte quase que exclusiva em grande parte dos textos jornalísticos desse tipo de cobertura.

    Tal relação é difícil de ser evitada e enfrentada. Uma vez que a polícia é o órgão responsável pela repressão, registro e investigação de atos de violência, é natural que as fontes policiais sejam procuradas. O problema é se ater apenas a essa visão dos fatos. Mas são inúmeros os problemas e controvérsias acerca da busca por outras informações além das policiais, e até mesmo com os próprios policiais. Dificuldade de se relacionar com a polícia, tentativa de manipulação dos policiais, dificuldade de encontrar informantes qualificados, barreiras à busca de informação de outros órgãos. Esses são apenas exemplos de obstáculos enfrentados pelos jornalistas.

    Somado a isso, estão as questões éticas envolvidas no uso do off e de câmeras escondidas, além da relação fonte-jornalista. Em todos os casos, cautela é essencial. Quanto ao sigilo da fonte, o off tem que ser sustentado e comprovado. Mas acredito que cada caso é específico, e a decisão entre manter ou não o sigilo deve ser tomada de acordo com a situação, levando em consideração a especificidade e a ética, o que, sem dúvida, é uma questão complicada.

    Já quanto ao uso de câmeras escondidas e gravadores, concordo com Karam, especialista em ética jornalística, quando diz que “o uso deve ser em casos em que a informação de interesse público não pode ser obtida a não ser com tais procedimentos”. Quanto ao relacionamento entre jornalistas e fontes, é preciso haver certo distanciamento. Como ela se estabelece numa via dupla de confiança e em interesses mútuos, ter profissionalismo e cautela auxilia a evitar ou minimizar problemas futuros.

    O jornalismo tem o propósito de informar a sociedade de uma maneira que deve (ou deveria) ser imparcial. Ouvir fontes além das policiais é essencial para criar uma imagem mais completa do acontecimento. É de suma importância que o público tenha acesso todos os pontos de vista. Apesar das dificuldades, é preciso esforço dos profissionais junto a outros segmentos além da polícia, como pesquisadores, ONGs e lideranças comunitárias, conforme dito no texto. Essa pode ser uma alternativa para que as matérias jornalísticas policiais tenham mais contextualização e pluralidade.

    Nathalie Arruda Guimarães
    6º Período Diurno

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  3. O texto de Silvia Ramos e de Anabela Paiva nos leva a reflexão: Até que ponto a interdependência entre a imprensa e a polícia na busca de seus interesses não prejudica a função do jornalismo de prestador de serviços públicos?
    Assim como toda relação entre entrevistador e fonte, tanto a polícia quanto os jornalistas têm seus objetivos envolvidos na construção de notícias e de reportagens. Alegando ter dificuldades em conseguir entrevistados, os veículos de comunicação se rendem a polícia como seu principal meio de informações. Dessa forma, deixam de citar aspectos negativos ou questionar o posicionamento dessa fonte.
    Outro ponto que merece destaque é a falta de pontos de vista sobre o mesmo assunto. A utilização de apenas uma fonte empobrece a matéria e, em alguns casos, pode deixar o material jornalístico tendencioso.
    A imprensa acaba tornando-se facilitadora dos interesses da polícia. Esta fonte tende a utilizar o espaço, que deveria ser voltado à sociedade, para promover a sua imagem, mandar recados para bandidos e divulgar casos que está investigando.
    Os jornalistas, de fato, encontram dificuldades nas apurações com outros entrevistados. Moradores de determinadas comunidades refletem os pensamentos de traficantes locais ao invés de expressarem suas crenças. Especialistas em segurança pública, às vezes, apresentam as mesmas análises, ruins para o jornalismo que está intimamente ligado com a novidade. No entanto, antes dos problemas citados, os profissionais da área devem conscientizar-se de que o papel do jornalismo é a prestação de serviços à população. Assim sendo, os leitores têm o direito de receber informações úteis e que demonstrem de forma mais transparente os fatos.
    O jornalismo deve ir ao encontro das necessidades dos receptores, até mesmo, ajudando a polícia em investigações; através de apurações e de denúncias. Não deve ser ponte para a promoção de fontes e nem espaço para a omissão de dados.

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  4. “O fato de trabalharmos diariamente na área policial não nos torna policiais”. A frase do jornalista Dilson Pimentel, é óbvia, mas chama a atenção. Escolho esta frase para dar início ao meu comentário, já que o convívio com o “universo policial” pode acabar criando essa falsa sensação em alguns jornalistas. Para trabalhar com jornalismo policial, o profissional deve estabelecer um distanciamento, uma vez que não tem o preparo necessário para lidar com certos perigos recorrentes quando se lida o tempo todo com a criminalidade.

    O texto “Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais”, ressalta a hegemonia das fontes ligadas à polícia no jornalismo policial. Neste contexto, torna-se difícil encontrar a polifonia necessária para a realização de uma matéria jornalística. O que se percebe é que na cobertura da violência, da segurança pública e da criminalidade, a polícia, muitas vezes, é a única fonte ouvida. Tornamo-nos reféns de informações parciais e pouco contextualizadas e isso compromete os preceitos básicos do jornalismo. Para agravar esta situação, no Brasil há uma grande dificuldade de acesso a informações públicas. Dessa forma, as informações muitas vezes são transmitidas de maneira distorcida. A dependência das fontes policiais elimina do espaço midiático outras vozes importantes: pesquisadores, ONGs e lideranças comunitárias.

    Recuperando a frase que citei no início do comentário, é importante ter um distanciamento também para evitar a intimidade com a fonte policial. O estabelecimento de relações afetivas pode comprometer todo o processo de apuração, principalmente quando é necessário elaborar matérias de crítica à polícia.

    A ilusão de buscar fontes que não queiram defender seus interesses deve ser deixada de lado. A relação jornalista x fonte sempre envolve interesses. Assim, é preciso tomar cuidado para que o espaço de um jornal não se torne moeda de troca, valendo privilégios e favores, e a notícia fique submetida a interesses não-jornalísticos. Todas as fontes sempre defendem seu ponto de vista. Cabe, então, ao jornalista, averiguar e perceber se aquilo merece ser divulgado e como deve ser divulgado.

    O texto ainda levanta outra polêmica: o uso do off e das câmeras escondidas. Tais práticas têm sido extremamente banalizadas, buscando aumentar a audiência, espetacularizar a realidade. O jornalismo policial muitas vezes está atrelado ao sensacionalismo, portanto o cuidado deve ser ainda maior. Segundo o professor José Marques de Melo, jornalistas que enveredam pelo sensacionalismo deixam de ser mediadores sociais para atuar como justiceiros coletivos. Para buscar credibilidade e se afastar desse tipo de distorção, o off e as câmeras escondidas devem ser usados quando não há outra maneira de realizar a apuração. O grande desafio do jornalista é revelar os fatos à sociedade, mostrando elementos que comprovem o seu discurso.

    Alice Linhares

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  5. Notícias e reportagens relacionadas à violência, segurança pública e criminalidade são rotina nos noticiários brasileiros. Entretanto, grande parte dessas matérias é baseada, principalmente, nas informações fornecidas pelas forças de segurança, conforme Anabela Paiva e Silva Ramos ressaltam em seu artigo “Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais.” De acordo com as autoras, a dependência das informações policiais torna a imprensa um mero instrumento de divulgação das ações das forças de segurança e diminui sua capacidade de questionar a atuação das polícias na sociedade.

    A violência e a criminalidade despertam o interesse público e sua discussão tem relevância dentro do contexto social. Mas como discutir esses temas se a imprensa, uma das principais formas de acesso cotidiano ao conhecimento, é dependente de uma única fonte para a apuração e produção de matérias relacionadas à segurança pública? Este questionamento nos leva a refletir sobre dois aspectos: a necessidade de uma abordagem plural dos fatos e a relação entre fonte e jornalista.

    Para que o leitor forme uma opinião qualificada sobre determinado assunto, é preciso conhecer o máximo de aspectos relacionados a ele. A abordagem plural de um acontecimento é ainda mais importante na cobertura da violência, já que vivemos em um país onde a corrupção está presente em vários segmentos sociais, incluindo as forças de segurança e a Justiça. A exposição e o confronto de pontos de vista diferentes são essenciais para que o cidadão se oriente no espaço público e exija o cumprimento adequado das funções do Estado no combate à criminalidade. Desta forma, cabe ao jornalismo, principalmente o impresso, oferecer ao público versões diferentes e aprofundadas sobre um fato. É preciso buscar outras fontes, como pesquisadores, ONGs e lideranças comunitárias para que seja possível se aproximar do ideal de uma abordagem plural dos acontecimentos.

    O artigo nos faz refletir, também, sobre a relação entre fonte e jornalista. Todo profissional da comunicação deve ter consciência de que as fontes não são inocentes. A divulgação de uma informação está direta ou indiretamente relacionada a um interesse, seja ele digno ou não. O jornalista deve recorrer a fontes consideradas confiáveis e sempre confrontar e verificar as informações, a fim de garantir sua credibilidade. Entretanto, a incessante busca por fontes confiáveis pode levar ao “oficialismo”, já que acredita-se que quanto mais alta hierarquicamente for a fonte, melhor ela será. Desta forma, o jornalista se limita a determinados contatos, o que pode por em risco a abordagem plural dos fatos.


    Além disso, o uso do off, de câmeras e gravadores escondidos e de identidades falsas foi discutido ao longo do texto. Atualmente, o off tem sido utilizado com prudência e cautela pelos jornalistas, entretanto, o mesmo não ocorre com os demais recursos. Na maioria das vezes, o uso de câmeras e gravadores escondidos e de identidades falsas está associado a pratica sensacionalista do jornalismo. O noticiário não é um simples palco para a exibição gratuita de tragédias e fatos chocantes. A violência deve ser tratada de modo crítico e sério, e não como um espetáculo apresentado apenas para atrair e entreter o público.

    A dependência das informações policiais faz com que a imprensa esteja limitada a apenas uma versão dos fatos e se torne cada vez mais subordinada às forças de segurança. O jornalista deve romper este círculo vicioso e buscar novas fontes, capazes de oferecer uma visão plural dos acontecimentos.

    Bárbara Garrido de Paiva Schlaucher
    6º período diurno

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  6. O texto "Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais” consegue retratar com clareza as dificuldades encontradas pelos jornalistas em ouvir outras fontes, quando se trata de uma reportagem policial.

    Por a Polícia ser considerada fonte oficial, muitas vezes deixamos de lado as fontes não-oficiais, que podem acrescentar informações relevantes à matéria. No Jornalismo Policial é fácil perceber que a maioria dos jornalistas não segue um dos princípios básicos da profissão: ouvir os dois lados da moeda.

    As autoras AnaBela Paiva e Silvia Ramos também destacam alguns pontos da relação entre policiais e jornalistas, entre eles está a proximidade entre repórter e fonte. Em todos os gêneros do jornalismo é preciso manter certo distanciamento afetivo das fontes, principalmente quando se trabalha com polícia, esporte e política. Utilizar-se apenas de uma fonte pode tornar o jornalista dependente, o que prejudica o trabalho e a informação.

    Não estamos mais na ditadura, mas usar o off é uma postura que me remete a essa época. Não é possível que até hoje pessoas precisem fingir ser o que não são para conseguir informações de interesse da sociedade.

    Thamara Gomes

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  7. O texto simples e direto, os recursos de imagem e os muitos depoimentos que compõem o capítulo “Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais”, trazem ao leitor de forma interessante e instigante as muitas polêmicas que envolvem o jornalismo policial.

    A dependência de fontes oficiais acontece no jornalismo, em editorias de todo o tipo. Porém é fato que o jornalismo policial tende a se ater mais nesse tipo de fonte devido aos muitos problemas enfrentados na apuração dos conteúdos ligados ao mundo da criminalidade e da ilegalidade.

    A pequena diversidade de fontes é justificada por alguns jornalistas pela dificuldade de se encontrar informantes qualificados e independentes em relação ao sistema de segurança. Um exemplo disso são as associações de moradores de favelas, que são uma alternativa às fontes oficiais, e que exercem o papel de mediadores em comunidades em que existem grupos armados. Ao invés de fontes de credibilidade, algumas dessas associações deixam de ser procuradas porque passam a serem vistas como porta-vozes de poderes estabelecidos à margem do Estado. Nessa situação, deixam de produzir informações independentes ou mesmo críticas sobre suas comunidades.

    Já que o papel do jornalismo é contar uma história mostrando seus diferentes ângulos, as matérias policiais deveriam ouvir além da polícia, o criminoso ou seu “porta-voz” (um advogado, por exemplo). Mas nesse caso, a confiabilidade da fonte talvez conte mais do que a imparcialidade exigida dos profissionais de jornalismo. E como tais fontes não são confiáveis, também não são utilizadas nas matérias.

    Ainda haveria a possibilidade de ouvir especialistas, mas há a alegação de que além de serem poucos, costumam repetir suas alegações, contribuindo pouco para a matéria.

    Pouca diversidade de fontes acaba por gerar coberturas unilaterais. O resultado é o conjunto de um número sem fim de matérias policiais, porém com pouca ou nenhuma contextualização ou exploração de temas como a violência enquanto fenômeno social, por exemplo.

    Como se não bastasse a tamanha dificuldade em conseguir fontes de visões distintas, ainda há a dependência que o jornalista cria a partir do momento em que estabelece laços de amizade com seus informantes ou quando compromete-se através de regalias feitas pela fonte a título de favor. Utilizar instalações e veículos policiais pode dar margem a distorções na relação entre fonte e repórter, assim como a amizade entre ambos pode auxiliar a obtenção de informações por parte do repórter e ao mesmo tempo inibi-lo no momento de divulgar esses fatos.

    O capítulo ainda aborda as complicadas questões éticas que envolvem alguns meios de apuração, como o despistamento (quando o repórter se utiliza de outra identidade) e a câmera escondida. Por um lado essas formas de apuração são vistas como anti-éticas, como defende de forma incisiva o jornalista Ricardo Noblat. Segundo ele, com o pretexto de que o interesse do público está acima de tudo e de que a imprensa existe para informá-lo, muitos jornalistas agem como se estivessem acima da lei. “A denúncia de um ato criminoso não justifica a prática criminosa”, afirma Ricardo. Por outro lado, há a o ponto de vista que considera que em determinadas situações o uso desses meios de apuração são indispensáveis para conseguir informações de interesse público.

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  8. Outro tema polêmico diz respeito à utilização de depoimentos em off. Com o objetivo de proteger a fonte, o jornalista acaba se expondo e se responsabilizando por uma informação que ele pode, muitas vezes, não ter como comprovar. É claro que o off pode ser “quebrado” se o jornalista considerar necessário, mas nesse caso ele deve estar ciente de que estará prejudicando sua relação de confiança com a fonte (que é o que lhe garante as informações).

    A relação de dependência do jornalismo policial em relação às fontes oficiais é prejudicial para a qualidade das matérias. Além de conteúdos limitados quanto ao ponto de vista, os jornalistas ainda perdem parte (ou todo) o poder de crítica das ações das forças de segurança. Sustentam suas produções sob apenas uma perspectiva e ficam, muitas vezes, reféns dos interesses das fontes. Talvez a saída fosse a maior participação das empresas jornalísticas para a obtenção e fidelização de novas fontes. Os repórteres agradeceriam e o jornalismo policial sairia ganhando.

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  9. Desculpa, esse ficou um pouco grande demais... :)

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  10. “Dependentes de BO: os desafios de ir além das fontes policiais” fala sobre a dificuldade enfrentada pela imprensa na produção de matérias policiais. Tendo sempre como fontes pessoas ligadas aos Batalhões da PM ou à Polícia Civil, a imprensa se vê escrava dos boletins de ocorrência. Repórteres da área argumentam ser impossível evitar essa situação. Assim, esta situação faz com que as matérias policiais tratem de um assunto através de um único ponto de vista, o policial. Em matérias de segurança pública por exemplo, a predominância da “fonte policial” deixa de fora fontes não-oficiais que poderiam acrescentar informações que representariam o outro lado, a visão da sociedade. Estabelecer contato com uma fonte oficial, exige do jornalista medidas preventivas. O contato não pode exceder o limite do profissionalismo. Transformar uma fonte oficial em "amizade", inibe o jornalista de vir a criticá-la caso ela tropece. O contato pode se firmar, mas com certo distanciamento. Outro procedimento que deve ser medido é a utilização de câmeras escondidas e de declarações em "off". O jornalista deve discernir quando a utilização da câmera escondida é de extrema importância para descobrir algo quase impossível, e de quando ela utilizada para construir um espetáculo. As declarações em off também devem ser fiscalizadas. Uma declaração de extrema importância para a sociedade não deve ser guardada, muito menos a sua fonte. A informação pode ter mais impacto e ser levada em consideração quando revelada quem a disse. Além de excluir a ideia de que o que está sendo relatado tem fundamento, não é boato.
    Assim como em todas as outras construções, a de uma matéria policial ou de segurança pública, merece atenção. Não utilizar somente a fonte oficial, o povo gosta de ouvir também o que o próprio povo fala, ou uma outra instituição, este é um procedimento que merece ser adotado. O jornalista deve ter a consciência que a matéria policial deve servir como um serviço de utilidade pública, e não um boletim institucional, relatar o trabalho da polícia através da própria polícia.

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  11. O artigo de Anabela Paiva e Silva Ramos “Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais” trata das relações entre os meios de comunicação e a polícia.
    Não podemos negar que notícias relacionadas à violência e criminalidade geram interesse do público e são boa parte das pautas de nossos jornais. Porém a polêmica apontada no texto está relacionada ao fato de na maioria das vezes a apuração dessas matérias ficarem restrita às fontes oficiais.
    A apuração unilateral retratada no texto traz um grande prejuízo para o bom jornalismo, que tem como uma de suas principais premissas a exposição de vários lados de uma mesma questão. É imprescindível para uma reportagem bem estruturada e que pelo menos tente manter a objetividade jornalística a apresentação, senão de todos, de pelo menos alguns pontos de vista diferenciados.
    Ao se fazer um jornalismo dependente apenas de fontes oficiais, tiramos do leitor o direito de fazer uma analise crítica dos acontecimentos. Os jornais acabam se tornando veículo de propaganda da polícia. O que vemos, na maioria das vezes, é a falta de pluralidade de opiniões que nos dê condições de fazer uma boa análise do que vemos na mídia.
    É preciso que os bons jornalistas se desprendam da acomodação de ouvir apenas as fontes oficiais (não há como negar são muito importantes), e procurem alternativas para mostrar novos ângulos dos acontecimentos. Essa iniciativa é um bom passo para a busca de um jornalismo de maior credibilidade e qualidade que consiga sobreviver às novas mídias que aparecem.

    Dafne Nascimento

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  12. Utilizar a polícia como única fonte é desrespeitar um dos princípios básicos do jornalismo, que diz que devemos sempre ouvir todos os lados envolvidos na questão. O resultado - além de uma matéria pobre do ponto de vista jornalístico - é a impossibilidade da crítica ao trabalho policial. Contudo, o ritmo agitado das redações e a pressão do deadline nem sempre permitem que o repórter se aprofunde na apuração dos fatos, especialmente quando se trata da editoria de polícia.

    Outro ponto de relevância trabalhado no texto foi a relação entre jornalista e fonte que, quando ultrapassa o âmbito profissional, pode prejudicar o trabalho. Essa relação não se caracteriza por uma "troca de favores", e sim por interesses dos dois lados: enquanto o repórter quer a informação, a fonte geralmente precisa divulgar ou denunciar algo. Quando essa relação se estreita, abre-se uma brecha para que ocorram todo tipo de chantagens e ameaças, dificultando o trabalho jornalístico.

    Quanto ao uso de câmeras escondidas e identidade falsa, a questão é polêmica. Certamente esses artifícios não são lá muito éticos, mas de que outra forma seria possível, por exemplo, apurar a matéria na qual o Tim Lopes denunciava uma "feira" de drogas na favela? Quando o interesse público falar mais alto, é aceitável, sim, que se lance mão desse tipo de recurso. Porém, aí já entra o problema do que é ou não de interesse público - e isso já seria assunto para outro texto.

    Gabriella Praça

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  13. Gostei muito do texto. As autoras apresentam uma discussão que é antiga na profissão de jornalista mas deve ser sempre debatida para estar em constante atualização.

    Primeiro falando do oficialismo das fontes, acredito que esse relação é mesmo muito complicada. Aponto a desconfiança das fontes, no caso as policias, com um grande impecilho para uma maior desenvolvimento das reportagens.

    Por essa relação ser estreita e complexa, acredito que em muitos dos casos o jornalista não procura outras fontes e acab virando mais um porta voz da fonte oficial.

    Vejo também, como bem eplicita as autoras, que a relação deve ser o mais profissional possível, o que na maioria das vezes é complicada. Pois para conseguir as informações, o jornalista deve se aproximar da fonte, agora fica a pergunta até onde essa aproximação deve chegar para conseguir a informação?

    O jornalismo policial, é visto como ritual de passagem para muitos jornalistas devido às questões apontadas no texto.Concordo com esse pensamento pois o que vimos no artigo, é, em essência, tudo o que o jornalista passa em diversas forma da prática jornalista.

    Encerrando, acredito que usar aparelhos escondidos, como apontado deve ser feito apenas em situações extremas.

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  14. Profissão repórter. Pauta, apuração, matéria, edição, impressão. Essa é muitas das vezes a rotina daqueles loucos que escolhem a profissão de jornalista. Seja na periodicidade de um mês, uma semana, um dia, uma hora ou apenas alguns minutos, o desafio que enfrentam é sempre o mesmo: saciar com informação uma necessidade humana que é a de saber tudo o que acontece no mundo ao seu redor.
    Sabendo que o combustível que move a indústria da informação é a curiosidade humana as pessoas que nela trabalham precisaram desenvolver artifícios para conquista a atenção das pessoas. Descobriram a capacidade que os depoimentos possuem em não apenas humanizar o texto como também prender a atenção de leitores. São palavras emitidas por uma pessoa que podem despertar empatia no leitor em alguns casos e dar credibilidade à matéria em outros.
    Fontes de informação, como são denominadas, oferecem depoimentos nos quais o jornalista se fundamenta para construir uma matéria, seja ela “perfil” ou um debate sobre um tema de caráter polêmico. Entretanto, não basta que um texto jornalístico possua argumentos de uma fonte. É necessário que ele tenha alguma importância dentro do assunto abordado, seja uma vítima, autoridade, especialista.
    Outro ponto a tratar e que também consiste no assunto abordado no texto “Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais” seria a utilização de poucas fontes por parte de jornalistas. De acordo com a pesquisa apresentada no texto, mais de 50% das reportagens sobre violência, segurança publica e criminalidade apresentam apenas uma pessoa ou instituição como origem dos dados ou informações, como o fato de a polícia ser a fonte principal – se não a única –reportagens. Uma das razões alegadas para a pequena diversidade de fontes é a dificuldades de se encontrar informantes qualificados.
    A verdade é que a teoria estudada pelos alunos de comunicação não apresenta as dificuldades da mesma maneira que a experiência prática. A primeira fala da objetividade, da necessidade de se ter várias fontes para dar credibilidade à matéria, de um fundamental distanciamento entre a fonte e o profissional de jornalismo. Entretanto são muitas as barreiras que caminham junto com a prática. A principal é aquilo que chamamos natureza humana.
    Como exigir o depoimento de um habitante de uma comunidade que esta coagida pelo trafico, sendo que isso poderia colocar em risco a própria vida; como esperar de um policial a confissão de abuso de autoridade ou confirmação de que partiu de sua arma a bala que atingiu um inocente; como obrigar um jornalista que escreveu uma matéria denunciando um policial a publique depois de ter sido ameaçado por ele. Ou até mesmo, como determinar que o jornalista deva publicar uma matéria em que denuncia um amigo policial ( e também a sua principal fonte ).
    Como se vê a relação social é uma pouco mais complicada do que parece. Existem diversas motivações que interferem na ação humana. Não que isso justifique a escassez de fontes em matérias jornalísticas, mas traz uma possível explicação para essa ausência.
    De outra forma, ao dar o meu aval sobre o texto, concordo plenamente com as palavras da minha amiga Laís quando afirma que a “relação de dependência do jornalismo policial em relação às fontes oficiais é prejudicial para a qualidade das matérias. Além de conteúdos limitados quanto ao ponto de vista, os jornalistas ainda perdem parte (ou todo) o poder de crítica das ações das forças de segurança. Sustentam suas produções sob apenas uma perspectiva e ficam, muitas vezes, reféns dos interesses das fontes. Talvez a saída fosse a maior participação das empresas jornalísticas para a obtenção e fidelização de novas fontes. Os repórteres agradeceriam e o jornalismo policial sairia ganhando.”


    Cristiney costa campos
    6 período diurno

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  15. O texto desta semana levanta questões muito interessantes a respeito do jornalismo policial.
    Vejo que essa área é muitas vezes inferiorizada e deixada de lado pelos leitores.

    Acredito que o motivo para isso seja justamente seu formato atual que, como as autoras retratam, ainda é muito dependente de boletins de ocorrência e fontes exclusivamente policiais.

    É importante que, mais do que apenas apresentar as tragédias e crimes ocorridos nas cidades, essa editoria exerça um papel mais crítico, trazendo à tona assuntos importantes que devem ser debatidos na esfera pública - como a violência contra a mulher, contra crianças, etc.

    Com relação ao uso de informações off the record, concordo com o texto, quando ele diz que é importante para o jornalista confirmar a veracidade das mesmas. O off é realmente o ponto inicial da investigação, ou uma informação a mais e, por isso, não deve ser usado como verdade absoluta.

    Concordo, também, que o direito de off das fontes deve ser respeitado pelo jornalista na maioria das vezes - exceto nos casos citados pelo texto, em que a informação é de interesse público.

    As câmeras escondidas e falsas identidades também geram polêmica no âmbito do jornalismo policial e investigativo. Discordo do jornalista Roberto Noblat quando ele considera que todo uso desses meios é crime.

    Ao meu ver, o jornalista tem um papel social muito importante que, acima de tudo, deve prezar pelo interesse coletivo. Sua função é informar e denunciar o que não está certo na sociedade. Se uma informação for fundamental para uma investigação e não houver outro meio para se chegar até ela, o uso de câmeras escondidas ou a não identificação como jornalista à fonte é perfeitamente aceitável e justificável.

    Com relação ao relacionamento dos jornalistas com os policiais, também concordo com o texto. Deve haver um distanciamento que garanta a neutralidade das informações apresentadas nos veículos de comunicação. Principalmente no contexto em que vivemos, em que a corrupção se espalhou por todos os setores da sociedade - principalmente no meio policial. O jornalismo deve estar sempre acima de interesses pessoais .

    Por fim, destaco a importância dessa discussão que nos oferece argumentos para repensar o jornalismo policial.

    Reitero a posição das autoras de que esse deve oferecer outros pontos de vista ao leitor - como opiniões de especialistas e de representantes da sociedade.

    Mais do que retratar a violência, ele deve despertar nas pessoas uma reflexão sobre o cenário atual.

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  16. Segurança pública, polícia, bandido, tráfico... já são temas polêmicos sem colocarmos no meio a cobertura que a imprensa faz deles. Concordo com praticamente tudo que foi dito no texto, excelente em apontar idéias, razoável ao apresentar soluções. Em primeiro lugar, sinto a necessidade de diferenciarmos as notícias da chamada ronda, que a polícia passa diretamente aos órgãos de imprensa das matérias que são mais relevantes, jornalisticamente falando, como uma invasão de morro ou o PCC parando São Paulo.
    Percebo a falta de aprofundamento na ronda, mas se compararmos às notícias que nas outras editorias tem a mesma relevância veremos que não são mais rasas. Desculpem-me a insensibilidade ou a praticidade, como preferirem, mas toda madrugada morre gente assassinado, toda noite pessoas são assaltadas e traficantes são presos. Talvez as reportagens mais elaboradas sobre temas mais relevantes relacionados à segurança pública pudessem sim recorrer mais ao especialista, pudesse procurar mais fontes neutras ou recorrer ao ministério público que vai interferir diretamente no destino dos casos.
    Sobre os recursos utilizados para conseguir informações, concordo que a falta de clareza de dados oficiais alimentam papos de bastidores e que o risco de ficar dependente de uma fonte extra-oficial existe, muito parecido com o jornalismo político, como foi muito bem lembrado no texto. Quanto à eterna discussão sobre o uso da câmera escondida, penso que teríamos assuntos para livros e livros. Não dá pra resolver em um tópico dentro de um capítulo de uma obra. Discordo da falsificação de documentos como artifício, mas não acho pecado omitir a profissão de jornalista para conseguir uma informação.
    A única vez em que minha opinião foi totalmente contrária à exposta no texto, é na passagem sobre a quebra do pacto do off. Pacto é pacto, mesmo que feito com um traficante! É uma relação de confiança, o que não significa necessariamente proximidade, que deve ser evitada. E se a quebra do pacto ajudar a prender um bandido? Quem prende bandido é polícia, jornalista contribui com a sociedade informando-a. A preocupação do jornalista, num caso como esse, deve ser mostrar a verdade.
    Um sujeito utilizando-se da profissão de jornalista para prender um bandido não vai consertar o mundo, talvez só dificulte seu trabalho e de seus pares na missão de informar.

    José Roberto Castro e Silva

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  17. O artigo “ Dependentes de BO: o desafio de ir além das fontes policiais”, de Ana Bela Paiva e Silva Ramos, possibilita o questionamento da atual situação da mídia na cobertura de fatos relacionados à violência, segurança pública e criminalidade. Por meio dele, podemos refletir sobre o quão despreparados estão os jornalistas brasileiros para apurar assuntos de tais naturezas.

    Quão aproximada da verdade estaria a notícia que apresenta uma informação sob um único ponto de vista, tomando-se por base o caráter multifacetado da realidade? Um dos princípios que regem o bom jornalismo, comprometido com o fornecimento da possibilidade de formação de opinião por meio de seu relato, é o balanceamento das fontes. Dessa forma, a apuração deve ser feita com base no máximo de angulações que possam ser tomadas de um mesmo caso. O artigo critica justamente a carência de fontes diversificadas nas matérias de segurança pública, violência e criminalidade. Seja pela dificuldade de acesso a outras fontes, seja por conveniência das empresas jornalísticas, foi constatado que, na grande maioria das reportagens, a polícia é a principal ou mesmo a única fonte na cobertura dessas matérias. Tal prática é anti-ética, pois, como expressa o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros no inciso I do artigo 12°, “o jornalista deve: ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas”.

    Essa dependência com relação à polícia dificulta a crítica jornalística à essa instituição, que, na maior parte das vezes, só quer colaborar com informações que lhe confiram mérito. Outro fator que acarreta essa dificuldade é a criação de laços de amizade entre jornalistas e policiais. Eis o dilema: até em que ponto a afinidade pode influenciar na atividade profissional do repórter?

    Uma outra discussão levantada pela autora diz respeito ao abuso do off e das câmeras escondidas. Qual o limite entre a quebra do off justificada pelo interesse público e o desrespeito ao direito humano de se manter em sigilo, a fim de garantir integridade? E até que ponto pode-se confiar em uma informação cedida em off? E a respeito das câmeras escondidas, quando é permitido a um repórter expor uma pessoa, sem o consentimento dela? Essas são discussões que merecem grande debate no jornalismo, já que colocam em questão a moral e a vida de seres, que antes de fontes são, sobretudo, humanos. Talvez uma regulamentação melhor elaborada preenchesse lacunas que ainda geram dúvidas como essas.

    Expandindo um pouco mais o pano de fundo do tema - mídia e a cobertura das situações de segurança - poderia ser feita uma breve abordagem sobre a questão de que, por vezes, devido a falta de cautela suficiente,é a mídia a própria condutora da violência. Por meio da cobertura simultânea espetacular de crimes, como sequestros, a grande mídia gera narrativas maniqueístas baseadas em um vilão e um mocinho, podendo estender a duração do sofrimento das vítimas e o horror dos telespectadores. Um exemplo foi o caso de Eloá, mantida em cárcere privado durante dias pelo ex-namorado Lindemberg. Não estaria ele se sentindo mais poderoso, sabendo estar dominando a cobertura dos principais canais abertos durante o sequestro?

    Encerro este comentário concordando com o pensamento do coronel da Polícia Militar Augusto Severo, cujo texto se em encontra em anexo no artigo de Ana Bela. Para ele, assim como existem profissionais especialistas em cobrir esportes, economia e artes é necessária uma especialização para jornalistas em assuntos policiais. Apenas compreendendo a estrutura da sociedade brasileira atual e a organização policial, estes profissionais estarão aptos a relatar e criticar o fenômeno da violência e da criminalidade , assim como papel da polícia nesse fenômeno.

    Anelise Polastri Ribeiro

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  18. Muito bom o artigo, por todas as reflexões (explícitas ou não) que ele propõe. Dentre todas, vejo dois principais temas para aprofundarmos a discussão. Primeiro, a utilização de métodos ilegais para obter as informações e, depois, os limites do trabalho cooperado entre jornalista e polícia.

    No primeiro caso, acredito que a discussão extrapola o campo da ética profissional. Como foi citado pelo professor Francisco Karam (p.45), o uso de câmeras ou gravadores escondidos não deve ser usado indiscriminadamente, mas acho que é válido naquelas situações em que esse recurso possa comprovar um fato investigado pelo jornalista. E aí entra uma polêmica: a justiça brasileira não reconhece como prova gravações (áudio ou vídeo) que não sejam previamente autorizadas pelo judiciário. Assim, o conteúdo de uma matéria serve apenas como base para o início das investigações oficiais e, muitas das vezes, a polícia não consegue obter outras provas para efetivamente incriminar alguém já mostrado pela imprensa praticando atos ilícitos.

    Então, vamos ao questionamento das possíveis falhas, que podem até gerar outras matérias: pode o judiciário, visando o bem público, aceitar o material não autorizado em alguns casos? Se sim, nossas leis são relativas? Se não, pode esse ser um sinal de que é necessária uma mudança em nossos dispositivos legais para reduzir a vantagem dos criminosos, que não seguem as leis? A divulgação de uma matéria de conteúdo investigativo pode comprometer o trabalho futuro da polícia?

    Essa última pergunta nos leva direto ao segundo tema de discussão que propus: até onde pode haver cooperação entre jornalista e polícia? Pessoalmente, acredito que os casos relatados do jornalista Eduardo Tchao e da oficial Marina Maggessi sejam bons exemplos de como essa relação pode ser administrada, gerando resultados positivos para ambos os lados.

    E, aqui, coloco mais uma reflexão. Maggessi disse que “junto com a imprensa eu regulo a rua”. É válido a imprensa deixar-se usar para que ocorra um resultado positivo para a sociedade? No caso descrito, sobre a possibilidade do Comando Vermelho atuar no Rio como um braço do PCC em São Paulo, essa atitude mostrou-se acertada. Mas qual deve ser o limite para que não haja comprometimento da credibilidade jornalística?

    O texto nos leva a inesgotáveis questionamentos, extremamente positivos para todos os profissionais da imprensa, que devem refletir sobre isso no trabalho cotidiano e buscar sempre agir de forma ética, com bom senso e dentro da legalidade.

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  19. Os textos “Dependentes do BO: O Desafio de ir além das fontes oficiais” levanta questões muito interessantes, como a necessidade de uma busca de novas fontes confiáveis para as matérias de jornalismo policial, uso exagerado do off e de recursos como a câmera escondida e grampos telefônicos. A unilateralidade na apuração das matérias é algo comum e ruim para o jornalismo. O uso exagerado dos recursos tecnológicos ,enfraquece a matéria e coloca o espetáculo em primeiro plano, em detrimento a informação.
    As autoras abordam um velho problema do jornalista: a relação fonte-repórter. Para se analisar essa relação, é importante lembrar que os policias tem uma orientação superior de dificultar o jornalista de cumprir sua tarefa ou “maquiar” a realidade. Nesse contato diário em busca informação verdadeira, a proximidade e o conseqüente relacionamento de amizade entre jornalista e policial podem surgir. Isso pode garantir informações quentes às matérias como também pode inibir o jornalista de escrever matérias criticas, por respeito ao amigo. É um relacionamento que deve ser evitado.
    A respeito do uso do off acredito que há um uso exagerado dele. Esse recurso que protege a fonte deve ser usado para elucidar, esclarecer e não ser a fonte principal da matéria. Concordo com a repórter Adriana Cruz, de O Dia “O off tem de estar sustentado em outras bases, não apenas na minha crença de que aquilo seria a verdade.

    Pedro Brasil, peço desculpas pelo horário

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  20. O objetivo de sugerir a leitura deste texto é o de tentar desenvolver a compreensão entre vocês de algo que costumo falar pelos corredores, em conversas informais, ou mesmo em sala de aula: o jornalismo da área de segurança pública é uma grande escola, também de vida!

    O jornalista e criminólogo Percival de Souza, em um brilhante artigo no qual reflete o trabalho jornalístico nesse setor, afirma que a expressão “reportagem policial” não traduz mais a abrangência do tema trabalhado pelo profissional da área. Na opinião dele, a sociologia se reflete diretamente nos acontecimentos policiais, a partir do princípio de que o universo criminal tem na sua origem a apuração da autoria e das circunstâncias de violação de regras sociais. Neste sentido, ele sugere a seguinte reflexão:

    "isto é: a transformação de boletins de ocorrência em inquéritos, os inquéritos em denúncias, as denúncias em processos, os processos em decisões condenatórias, as decisões condenatórias em internação compulsória nos estabelecimentos penais, os estabelecimentos penais abrigando profissionais da psiquiatria, psicologia, antropologia e serviço social. Portanto, impossível limitar como sendo 'policial' a reportagem que envolve tantas atividades interdisciplinares que, além das mencionadas, exigem participação de médicos-legistas, peritos criminais e o aparato técnico-científico especializado. A soma de tudo isso abre espaço para outro ramo do saber, a sociologia."


    A partir daí, destacamos a interdisciplinaridade dos nossos fazer e saber jornalísticos. Todos os comentários aqui postados captaram a essência da matéria: os exemplos da reportagem policial podem e devem ser aplicados em qualquer cobertura. Estamos diante de uma reflexão ética a cada dia, precisamos conhecer o contexto social no qual estamos inseridos, refletir sobre as contextualizações e oferecê-las ao nosso público de forma responsável, com caráter de utilidade pública, por mais complexos que sejam os caminhos!

    Espero que, verdadeiramente, tenha, de alguma forma, colaborado para algumas reflexões. Muitas outras virão!

    Abraços a todos!

    Bedendo

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  21. O texto de Percival de Souza que fiz referência é: “Nos autos são encontrados réus e testemunhas. O jornalista prefere vê-los como personagens”. In: ALVES, Carla Cristina Costa. (2001), Nelson Rodrigues e a reportagem policial: realidade x ficção. Monografia de graduação em Comunicação Social. Rio de Janeiro, Uerj. Disponível em: Cadernos da Comunicação, publicação da Secretaria Especial de Comunicação Social da Prefeitura do Rio de Janeiro.

    Quem tiver interesse, posso disponibilizar para uma cópia...abraços

    Bedendo

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  22. Achei muito interessante as ponderações feitas no texto visto que, no meu último estágio, passei por algumas das questões discutidas neste artigo. Como colocado pelo autor, é evidente que a conduta no jornalismo dito "policial" depende muito dos editores aos quais o repórter está submetido, bem como das diretrizes do grupo de comunicação para o qual trabalha.
    Responsável por fazer a ronda policial de um programa de rádio, me sentia profundamente incomodada em ter que me ater somente ao B.O., noticiando, às vezes, importantes acontecimentos em breves notas. Mais do que a falta de espaço, o que mais me atordoava era ter que, digamos, reproduzir em outras palavras um discurso unívoco, uma versão unilateral dos fatos. Aqui não coloco em cheque a credibilidade das informações contidas no boletim de ocorrência, caso contrário um novo tópico para discussão poderia ser postado. O que quero dizer, assim como é colocado no início do texto, é que "fazer jornalismo" desta forma "diminui a capacidade da imprensa de criticar as ações das forças de segurança".
    Outro ponto tocado pelo autor e de fundamental entrave para a melhor apuração das matérias é a dificuldade de relacionamento com as fontes, tanto pelo questionamento de sua confiabilidade quanto à isenção do discurso. De fato, a maioria dos policiais costumam adotar posições defensivas e corporativas ou, quando passam a informação, baseiam esta relação no que gosto de pensar como "lei da recompensa".
    Penso que o jornalismo da área de segurança pública deveria ter maior pluralidade de relatos, enfoques mais aprofundados e dar voz às minorias que geralmente são excluídas nesses tipos de matéria. Como o autor propõe ao final do texto, é necessário criar um canal de diálogo com a sociedade e exigir mais tranparência das autoridades.

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  23. O artigo nos mostra a importante de se ir além das fontes policiais. Muitas vezes nos é mostrado somente o lado da polícia, sem contrapor com a opinião da sociedade e dos envolvidos nos crimes. Quando a apuração é aprofundada, mais fontes são ouvidas, a notícia pode até mudar seu foco, mostrando falhas e até mesmo a corrupção dentro da instituição.
    Policias relatam os fatos da maneira que lhes é conveniente, assim como bandidos. A sociedade (moradores, pessoas que acompanharam de perto o caso, vizinhança) mesmo tendo uma opinião também parcial, pode mostrar e abrir campos para novas apurações e descoberta de novos fatos. Depender somente do BO limita muito a notícia. Por trás das breves e objetivas linhas dos boletins de ocorrência com certeza há muitas versões e pontos a serem explorados.
    A meu ver, muitos jornalistas buscam somente a Polícia como fonte por medo do envolvimento com líderes das comunidades e do tráfico, por exemplo. A violência com a imprensa, principalmente nos casos de investigação, é algo que assusta. O filme Verônica Guerin – O custo da Coragem (uma história verídica, com Cate Blanchett no papel de uma repórter investigativa que publica uma matéria sobre tráfico de drogas e chefes do crime em Dublin) mostra claramente os obstáculos e dificuldades que um jornalista pode sofrer com a repercussão e publicação de matérias policiais. No filme, como na realidade dos profissionais da comunicação que lidam com essa situação, ocorrem ameaças e perseguições à repórter, que desmascara pessoas poderosas e perigosas.
    Outro ponto importante de ser comentado, é que muitas vezes o jornalista assume o papel da polícia, ou, como o artigo cita, colabora nas investigações. Para exemplificar isso, cito a matéria do jornalista Caco Barcellos, apresentada como especial no Jornal Nacional, onde ele acrescenta mais dois nomes à lista das vítimas da ditadura. Caco mostra todo seu trabalho de apuração e investigação (que durou um ano), a relação com as fontes, ameaças recebidas, a busca de provas e fontes confiáveis. Sabemos que a rapidez com que as informações devem ser veiculadas, muitas vezes, impedem um trabalho como esse, porém, um bom jornalista deve ouvir, pelo menos, os envolvidos no crime, e não publicar somente a versão da Polícia.

    Liliane Turolla

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  24. Os textos de segurança pública dependem das informações fornecidas por policias porque, mesmo que não estejam totalmente corretas, são ainda, as informações mais confiáveis. Geralmente, as polícias são as primeiras a serem acionadas e chegarem ao local do crime. Entretanto, pessoas que presenciaram o fato e podem então dar depoimentos como testemunhas devem ser ouvidas. Casos mais graves, que exigem maior investigação, devem ser acompanhados pela imprensa que deve divulgar apenas as informações já comprovadas.

    Ouvir a opinião pública também é importante. Em casos de tragédia, o povo acaba sendo portador de uma mesma visão. No caso da morte da menina Isabella Nardoni em março de 2008, grande parte da população considerava o pai e a madrasta como culpados pelo crime, mesmo antes da finalização das investigações. Na verdade, a própria opinião dos investigadores do caso tendia para essa avaliação. Os acusados estão presos e vão a júri popular em 2010. Se perguntarmos ao povo, eles dirão que os culpados foram o pai e a madrasta.
    Por outro lado, uma sociedade que se revolta diante de alguns crimes e que cobra um culpado ajuda a dar amplitude ao que é divulgado. O povo acompanha as investigações por meio do que a imprensa divulga, acredita no que lê e passa adiante.

    A predominância das fontes policiais em textos não impede que atores sociais, como definem as autoras Ana Bela Paiva e Silvia Ramos, sejam também ouvidos. Dependendo do caso, é necessário uma retomada na “ficha social” da pessoa acusada para conhecer antecedentes e saber como ela se portava na sociedade. Para isso é importante ouvir familiares, amigos, colegas de trabalho, representantes de associações de bairro, por exemplo. Outra ideia é enriquecer o texto com argumentos de especialistas como médicos, cientistas, psicólogos, psicanalistas. Essa seria uma maneira de incluir outras fontes além das policiais.

    O jornalista deve tomar muito cuidado para não reproduzir reportes policiais equivocados. Mesmo que seja algo de grande interesse público, o ideal é ter fundamentação suficiente do que se publica para não denegrir a sua própria imagem, a do jornal ou do veículo de comunicação que transmite o fato. Os textos policiais não devem apresentar mais de um ponto de vista sobre o assunto. Ou a vítima é vítima ou é inocente. O debate entre os vários segmentos da sociedade
    Para que sejam vencidas as posições defensivas e corporativas adotadas pelos especialistas de segurança, é necessário estreitar relações profissionais com essas fontes e mantê-las sempre em off. As informações colhidas dessa maneira devem, entretanto, ser divulgadas se tiverem sustentação em outras bases e o relacionamento precisa ser estritamente profissional. Acho que o uso de dados colhidos em off deve ser algo para compartilhar com o editor somente quando é necessário um respaldo do veículo onde se trabalha.

    Concordo com Ricardo Noblat quanto ao veto da prática de câmeras escondidas e falsas identidades. O jornalista deve primar pela ética e responsabilidade na profissão. O uso de gravadores, porém, como justifica o professor Francisco Karam, quando usados para obter informações que não seriam acessíveis de outras formas, é uma prática legítima desde que busque apenas transmitir informações de interesse púbico, sem espetacularizar.

    A ideia de contribuições e sugestões é válida para garantir canais de diálogo com a sociedade e transparência nas informações. Algo bem parecido com o que o Twitter promove. Liberdade de informação e uma vigilância dos próprios usuários em busca de bom conteúdo.

    Acredito que a melhora na apuração, na cobertura e na escolha de fontes pode ocorrer com a proximidade dos jornalistas com o ambiente policial. Frequentar as academias como sugere o coronel da Polícia Militar, Augusto Severo, é uma ótima saída para entender o papel da polícia frente à violência e criminalidade. É muito mais fácil escrever sobre algo que conhecemos na prática.

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  25. Com um título muito apropriado, o artigo "dependentes de BO" fala sobre a grande dependência que a imprensa brasileira tem das fontes policiais na apuração de suas pautas sobre violência, criminalidade e segurança pública.
    A apuração é extremamente relevante no processo jornalistico, senão a mais importante, pois de nada vale um bom texto se os fatos não forem fiéis à realidade e não buscarem a maior imparcialidade possível.
    "Dependentes de BO" me fez lembrar de um filme que vi recentemente no cinema, "Salve Geral",um drama brasileiro que trata da rebelião de 1996 iniciada pelo PCC nos presídios de várias capitais brasileiras. O filme, mostra uma forte aliança entre diretores de presídios, chefes de segurança do estado e mídia. Mais do que solucionar de fato os problemas, o poder policial quer passar para a sociedade a impressão de que está tudo sobre controle, uma farsa que envolve prestígios pessoais e questões políticas.
    Entendo que uma apuração baseada em apenas uma fonte é algo pouco profundo e tendencioso, mas penso que em um país com alto nível de corrupção como no Brasil, está complicado acreditar na veracidade do ladrão e da polícia.
    Bem como sugerido pelo autor, apropriar-se de fontes como pesquisadores,ONGs e lideranças comunitárias, seria uma estratégia, mas tenho para isso também algumas ressalvas. Sendo assim, o bom e velho faro jornalístico não pode ficar de fora, fazer fatos virarem notícias, precisa mais do que nunca, de sensibilidade e ética para informar da melhor maneira possível, evitando ser tendencioso e superficial na apuração.
    Flaviane Soares

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